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Resenhando: A Virtude da Raiva (Arun Gandhi)

Nesta série de posts, veremos as principais mensagens do livro " A virtude da raiva", escrito por Arun Grandhi, neto de Mahatma Gandhi. Lições ricas para a nossa vida pessoal e profissional.

Lição 01 - Use a raiva para o bem

Gandhi alerta que a raiva é uma emoção importante e deve ser canalizada para o bem. Ela nos estimula a seguir em frente e motiva a chegar em um lugar melhor, ajudando a definirmos o que é justo e o que não é. O que ele nos alerta e que considero essencial, é que não devemos usá-la para a vingança ou disputa, mas para sermos firmes e assertivos diante das atribulações, canalizando essa energia para objetivos positivos. Sentir a raiva, mas não reagir com ela.


Mahatma sugeriu a seu neto um exercício que também podemos praticar. Toda vez que sentirmos raiva, devemos parar e anotar quem ou o que provocou esse sentimento e por que reagimos desta forma. Assim chegaremos em sua raiz. Conseguiremos encontrar a solução entendendo a origem. Fazer um diário sobre a raiva nos ajudará a entender o que causou o conflito e como podemos resolvê-lo. Enfatiza que reações de raiva só geram mais ressentimento e violência, piorando os problemas. Conseguir entender o ponto de vista do outro, respeitar e agir com empatia ajuda a perdoar e isso é um sinal de verdadeira força.


Um ótimo alerta que ele nos dá é quando diz que palavras podem causar mágoas irreparáveis às pessoas, e que nós não percebemos que esta raiva que direcionamos ao outro também nos fere. É só observamos como fica nosso corpo em estado de raiva, além do sentimento de culpa e arrependimento após a situação.


Um outro ponto importante desta lição é quando Gandhi fala da sensação prazerosa que acessamos quando conseguimos canalizar a raiva e agir de modo assertivo com foco na solução para ambos e não apenas para mostrar quem tem razão. E acrescenta que esse controle pode se tornar um hábito a cada resultado positivo que for vivenciado. E cita: "Use a raiva com sabedoria. permita que ela o ajude a encontrar soluções com amor e verdade."

Lição 02 - Não tenha medo de expressar a sua opinião

Nesta lição, Gandhi resgata a importância de falarmos por nós mesmos, sem a necessidades de agradar os outros. Para ele, "um não dito com convicção profunda é melhor do que um sim dito apenas para agradar ou, pior, para evitar problemas. "Precisamos ter cuidado ao seguir algo que não nos traz felicidade somente porque alguém disse que era o melhor a fazer.


É essencial, em um processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento, termos clareza de nossas convicções, nossa visão de mundo, nossos valores, nossas necessidades, pois são através delas que iremos nos relacionar e nos o mundo. É a nossa verdade interior sendo expressada. Abrir mão de quem somos somente para agradar é por vezes adoecedor. Para ser firme assertivo não é necessário nenhuma atitude violenta, é possível ser ouvido sem necessidade de gritar.


Arun Gandhi finaliza este capítulo do livro nos convidando a seguir o exemplo de seu avô: termos cuidado com as palavras ao nos comunicarmos, observando antes se as palavras irão ferir ou ajudar o outro. Se elas tiverem o propósito de fazerem o bem, que as enunciemos em "alto e bom tom."


Lição 03 - Aprecie a solidão

Este capítulo é um convite a "estar consigo mesmo" para apreciar a paz interior. No mundo agitado em que vivemos e permeado por tecnologias de comunicação, torna-se essencial reservar tempo para o refúgio em si. Para que isso ocorra não é necessário nenhuma ação sofisticada. Podemos: meditar, escrever os pensamentos e reflexões em um diário, contemplar a natureza, respirar. Todos precisarmos de um tempo a ser dedicado para a própria vida, se queremos evoluir como seres humanos, afirma Arun Gandhi.


O autor alerta para o comportamento dos pais que preenchem a vida dos filhos com inúmeras atividades, mantendo-os constantemente ocupados, sem dar tempo às reflexões, ao pensar, ao brincar, ao contemplar. e completa: "Todo esse aprimoramento pode ser bom, mas os pais devem considerar dar aos filhos o presente da solidão de vez em quando", para que elas não se tornem adultos ocupados, que realizam várias coisas ao mesmo tempo, mantendo um ritmo de vida acelerado e sem tempo para o descanso, a reflexão, e estar consigo mesmo.


Sobre as redes sociais, comenta que elas oferecem "amigos" e "seguidores", mas com conexões interpessoais e afetivas as vezes vazias. e afirma que "relacionamentos fragmentados não constroem uma sociedade coesa."


O conceito de solidão para Gandhi não propõe estar fechado a ideias novas ou ao diferente, mas que estejamos abertos a tudo que chega e nos toca, para que possamos levá-los aos nossos momentos de solidão e refletir sobre todas as posições e decisões que desejarmos tomar. Ilustra dizendo que nossa mente deve ser como um cômodo com muitas janelas abertas, deixando a brisa entrar, mas sem se deixar levar. E finaliza: "Faça parte do mundo e absorva todas as ideias que puder. Depois refugie-se em sua solidão ou num lugar tranquilo e decida como irá usá-las para melhorar o mundo."


Lição 04 - Conheça o seu valor

Em uma das mais belas lições do livro, o autor Arun Gandhi compartilha o pensamento de seu avô acerca do valor próprio, afirmando que precisamos de muito pouco para sermos felizes e que o problema começa quando passamos a nos comparar com os outros, consideramos serem melhores que nós, e acreditamos valer à pena brigar para conseguir alcançá-los. Isso faz com que esqueçamos de ver o que nos faz ter valor para o mundo.


Mahatma não considerava errado buscar crescimento econômico, mas alertava que não devemos melhorar somente a nossa vida, mas colaborar com o crescimento da vida dos outros. E que é fundamental separarmos “nosso valor pessoal das coisas que adquirimos.” Para ele, “o materialismo e a moralidade são inversamente proporcionais. Quando um aumenta, o outro diminui.”


Gandhi ensinou a seu neto que todos temos talentos especiais e que a nossa missão é fortalecer os outros e não somente a nós mesmos. Uma das suas afirmativas mais bonitas é quando diz que esses talentos não são nossos, não o “possuímos”, estamos apenas “cuidando” deles, e que devem ser transmitidos através de nossas ações para aqueles a quem ajudamos.


Lição 05 - Mentiras levam a mais mentiras

Arun Gandhi inicia esta lição comentando que a mentira parece ser a saída mais fácil para determinadas situações. Entretantonão percebemos que, quando mentimos para os outros, estamos mentindo para nós mesmos. Ganhariamos mais se enfrentássemos a verdade desde o início.


Para o autor, mentimos geralmente quando:

  • Ficamos frustrados por não estarmos no controle de nossa vida;

  • Quando nos sentimos impotentes, e queremos nos mostrar mais fortes;

  • Não temos coragem de reconhecer nossas necessidades e admitirmos nossos desejos.

O autor explica sabiamente que a mentira prejudica a noção de individualidade e nos enfraquece diante de nossos objetivos, pois passamos a apresentar uma falsa imagem para o mundo. É a vaidade acima da integridade.


Também nos mostra que pais quem mentem educam seus filhos a mentir também é acabam passando a mensagem de que mentir é mais fácil que encarar a verdade, seja nas pequenas ou grandes coisas. E cita um ensinamento de Gandhi: “Tudo o que você construir em cima de mentiras será instável e inseguro, e, se continuar colocando uma em cima da outra, seu castelo de areia um dia irá ruir.”


Arun Gandhi finaliza esta lição fazendo uma bela conexão com o conceito de ahimsa (não violência) que estabelece que não devemos fazer nada para ferir os outros ou a nós mesmos. Esse conceito inclui a mentira.


Lição 06 - O desperdício é uma violência

Essa lição é uma aula de vida. Quando pensamos em desperdício, lembramos de coisas materiais, mas Gandhi foi mais além e nos trouxe a possibilidade de revisitar esse conceito ao afirmar que “desperdiçar qualquer coisa é mais do que um mau hábito. Demonstra descuido com o mundo e é uma violência contra a natureza.”


Desperdiçamos:

  • Alimento e bens materiais, quando consumimos em excesso;

  • A flora e a fauna, quando a destruímos para fins de beleza ou lazer;

  • O tempo quando não usamos para o amor e para o bem;


Quando desperdiçando algo, estamos desperdiçando o tempo e o dinheiro que alguém usou para adquirir aquele bem, desconsiderando o esforço da conquista.


Este pensamento já resgata uma outra premissa de Gandhi, ao dizer que “quando consumimos os recursos do mundo em excesso, nós os tornamos ainda mais escassos para o outro”, ou seja, nos desconectando da consciência de coletividade .


Ele propõe um exercício para seu neto, que proponho fazermos sempre que possível, chamado “ árvore genealógica da violência”, onde devemos alimentar dois ramos: 🔸Ramo da violência física, onde devemos anotar as agressões físicas que cometemos ao longo do dia; 🔸Ramo da violência passiva, onde devemos anotar nossos atos discriminatórios, de preconceito, de desperdício, de ganância, de opressão, ou seja, qualquer comportamento que possa ferir as pessoas


A árvore genealógica da violência, nos ajudará a compreender quais violências praticamos e não nos assustemos com a presença da violência passiva em nossas atitudes, pois é um mau hábito que poderemos cuidar e minimizar cada vez mais. Para Gandhi, “a violência passiva é o combustível que alimenta a violência física no mundo. Se quisermos extinguir o fogo da violência física, temos que cortar o seu suprimento de combustível.” Esta lição nos mostra que temos capacidade de transformar o mundo, desde que transformemos nossos maus hábitos individuais.


Lição 07 - Eduque seus filhos sem violência

Talvez a mais difícil das lições, pois já inicia com Gandhi afirmando que as crianças aprendem mais pelo caráter e pelo exemplo e que precisamos “viver o que queremos que nossas crianças aprendam.” O autor mostra também o pensamento de seu avô acerca das violências físicas. Para ele, educar pela agressão física é criar um ciclo desnecessário de violência. Criar os filhos no espírito da não violência é “encher a casa de amor e respeito, estabelecendo um propósito comum.”


O ponto alto desde capítulo é o exemplo que Arun Gandhi traz da educação de seu pai, baseada na não violência. Quando adolescente, seu pai solicitou que ele o deixasse em um compromisso pela manhã, cumprisse uma rotina de tarefas ao longo do dia e o buscasse às 17h. Arun se comprometeu, mas ao invés de cumprir suas obrigações, passou a tarde vendo filmes e ainda chegou atrasado 1h para pegar seu pai. Ao ser perguntado pelo que houve, Arun mentiu para o pai, por vergonha de admitir seus erros. Não sabia ele, que o pai, por preocupação com atraso, já havia checado se o filho tinha ido em um dos compromissos, e falou: “lamento que você tenha mentido para mim hoje. Falhei como pai por não conseguir fazê-lo ter a confiança e a coragem necessárias para me dizer a verdade. Como penitência por minhas atitudes, vou para casa à pé.” .

Arun Gandhi relata que essa experiência pessoal foi uma das maiores lições sobre a importância da honestidade, ensinadas por seu pai. Permitiu que ele visse imediatamente a consequência de seus erros. Sem agressões verbais ou físicas, seu pai ensinou que mentir gera sofrimento ao outro.


Gandhi ensina o quão desafiador é ser pai e mãe, que os erros sempre virão e de ambos os lados, mas que o amor é a via mais segura para manter a empatia e a conexão de qualidade, que permitirão aprendizados mais consistentes para as crianças. O autor finaliza afirmando: “é preciso um esforço consciente para educar nossos filhos de forma não violenta e dar esse presente a eles e ao mundo.”


Lição 08 - Humildade é força

Sem dúvida, a lição mais forte desse livro. E já inicia trazendo nosso comportamento egóico, que nos impede de demonstrar compaixão e respeito pelas pessoas, promovendo segregação e nos fazendo acreditar que somos melhores que os outros, postura geradora de raiva e violência. Para Gandhi, “qualquer tipo de discriminação é um ataque à nossa humanidade compartilhada.”


Gandhi também alerta seu neto para a nossa interdependência e alerta: “Cada peça é importante e contribui para o todo. Assim como está pequena mola é necessária para fazer a roca funcionar corretamente, cada indivíduo é vital para a sociedade.” Como o mundo dos negócios seriam mais saudáveis se todos pensássemos assim! Todos desejamos pertencer e a discriminação para com o outro gera exclusão, ou seja, estamos dizendo que nos negamos a olhar seu valor.


“O bem do outro está contido no bem de todos”, alerta Gandhi e afirma que parte da violência do mundo é resultado do que chama de Sete Pecados Sociais:

  • Riqueza sem trabalho;

  • Prazer sem consciência;

  • Comércio sem moral;

  • Ciência sem humanidade;

  • Conhecimento sem caráter;

  • Devoção sem sacrifício (de riquezas);

  • Política sem princípios.

Arun Gandhi acrescentou um oitavo: direitos sem responsabilidade. O autor finaliza com uma reflexão importante, ao dizer que a humildade nos permite apreciar uns aos outros e tornar o mundo mais forte é positivo.


Lição 09 - Os cinco pilares da não violência

Gandhi acreditava na força da transformação pessoal e dizia que pequenas ações poderiam se transformar em algo bem maior. Incentivava as pessoas a conduzir o mundo através do amor e não do medo. Buscava, portanto, viver de acordo com cinco fundamentos:


RESPEITO e COMPREENSÃO: acreditava ser a única forma de o mundo poder seguir em frente. “Quando respeitamos e compreendemos uns aos outros, evoluímos para o terceiro pilar”.

  • ACEITAÇÃO: capacidade de aceitar outras visões e posições, permitindo que sejamos sensatos é mais fortes;

  • APRECIAÇÃO: é ver a vida com foco na gratidão, sem evidenciar o que está faltando;

  • COMPAIXÃO: ajuda a trazer felicidade pessoal é mais harmonia o mundo. “É parar para descobrir os pontos fortes e as esperanças da outra pesssoa, (...) Reconhecemos a necessidade de amor próprio do outro e tratamos todo mundo de forma igual.

Quando entendemos os outros e os acolhemos em nossa vida, percebemos como os pilares da não violência de Gandhi são essenciais para o bem-estar e a paz de cada um de nós e do mundo, como um todo.


Lição 10 - Você será testado

Um capítulo triste e desafiador, pois trata do assassinato de Mahatma Gandhi. Em 03 de junho de 1947, a Índia estava livre do governo britânico, mas para a tristeza de Gandhi, iniciava uma nova disputa de poder, agora entre os povos da própria Índia. Estava sendo testado e buscou a pacificação, mas a violência, as mortes tomavam o país. O povo ignorava a não violência e satyagraha.


Gandhi foi assassinado. A raiva e o desejo de vingança tomaram o coração de seu neto Arun Gandhi, que já estava morando na África do Sul. Seus pais retomaram os ensinamentos de Mahatma: “Ele não disse que precisamos usar a raiva com inteligência? Qual seria o melhor uso para a raiva que você está sentindo agora?”


Para Gandhi, “o perdão é mais viril do que o castigo” Arun Gandhi ensina que, quando somos testados, devemos canalizar a nossa raiva para o ações que promovam o bem e não usá-la para a violência. A grande força da não violência surge quando conseguimos amar as pessoas que nos odeiam. E seu avô alertou: “Sei como é difícil seguir essa grandiosa lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis também?”


A força das lições de Mahatma Gandhi inspiraram seu neto a trabalhar pela não violência por todo o mundo. Este livro faz parte disso. E finaliza esta lição nos alertando, ao dizer que “se quisermos a paz no mundo, precisamos encontrar a paz dentro de nós.”


Lição 11 - Lições para hoje

Nesta lição, Arun Gandhi inicia falando que algumas pessoas que possuem pontos de vista mais estreitos tendem a acreditar que estão corretas. Buscam se engrandecer diminuindo os outros. Lembra uma fala de Albert Einstein acerca de seu avô: “As próximas gerações acharão difícil acreditar que um homem como ele um dia tenha andado sobre a Terra”. Uma referência à luta de Gandhismo pela paz e pela não violência.


Relembra também um exercício passado por seu avô e que podemos praticar ainda hoje. Trata-se de listar as nossas fraquezas e maus hábitos para sabermos em que podemos melhorar. Gandhi acrescentou para o neto: “Você precisa conhecer seus pontos fortes. Seu objetivo diário é ser melhor do que foi no dia anterior.” Lição para uma vida.


Arun Gandhi acrescenta que seu trabalho com a não violência e a convivência com seu avô o fez compreender que “a paz e a esperança podem brotar quando nós abrimos para os outros. Ao nos reunirmos florescemos de formas que nunca seriam possíveis se estivéssemos sozinhos.”


Uma lição importante que ele nos traz é de que “ninguém nos oprime mais do que nós mesmos”. E essa falta de clareza nos leva à tantas violência para com o mundo, através do preconceito, da humilhação, do orgulho, da disputa de poder. Então, sugere que passemos a reconhecer o que temos em comum em vez do que nos separa, para assim olharmos o mudo de forma a congregar e não a segregar.


Finalizo essa resenha com uma reflexão de Gandhi e convido todos a praticarem. Sempre que você estiver em dúvida se uma ação é correta ou não, lembre-se do rosto da pessoa mais pobre e frágil que já viu e pergunte a si mesmo se o passo que está considerando tomar seria de utilidade para essa pessoa. Se a resposta for sim, você perceberá que suas dúvidas irão desaparecer.


Esse livro é um presente de Arun Gandhi para o mundo. Tocou fortemente meu coração e nutriu lugares em mim escassos desses ensinamentos.


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