Quem nasce em mim depois de uma perda?
Quando morre um cônjuge, nasce um(a) viúvo(a). Quando morre um pai, e/ou uma mãe, nasce um(a) orfã(o). Quando morre um(a) filho(a), nasce o inominável.
Toda morte traz em si o nascimento de novas identidades em quem fica. Identidades essas, impostas pela perda.
Cada tipo de vínculo, seja de parentesco ou de afinidades sociais, arranca de dentro de nós, de forma bruta, a certeza de quem éramos. E junto com essas novas identidades, nasce também o estranhamento acerca de quem nos tornamos.
Ouvi de uma mulher enlutada: “eu ainda me reconheço casada, mesmo sabendo de minha viuvez. E também não me sinto solteira.”
É nesse lugar de estranhamento acerca de si que a angústia faz morada.
Nada mais será como antes. Sem dúvida! Porque quem fica já não é mais a mesma pessoa de antes.
Perder alguém amado é perder um referência sobre quem somos. Quando ela se vai, parte de quem somos, vai junto. E fica a estranheza: Quem sou eu agora, após a morte de quem amo?
No cuidado ao luto é importante acolher a dor da perda, e é igualmente relevante construir espaço interno para deixar nascer as novas identidades, os novos papéis sociais, e assim, começar a construir um novo lugar no mundo.
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