Os lutos não reconhecidos dos idosos na pandemia.
Os idosos foram os primeiros confinados da pandemia. Os que receberam isolamento mais restrito e sem previsão de fim, distanciando-se de seus vínculos seguros de apego. Tiveram a vida transformada radicalmente por longos meses, até a esperança da vacina se efetivar.
As perdas são incontáveis e os lutos, por vezes, vividos em silêncio.
Perderam a liberdade de ir e vir, tendo a vida social abruptamente interrompida. Perderam o vínculo social com os amigos de convivência. O que os levou a perder também a oportunidade para a mobilidade do corpo que vive o envelhecer.
Perderam a presença dos familiares, a visita dos filhos e netos, principalmente as crianças. E com isso, a presença do contato afetivo, do abraço, da companhia que alimenta alma, coração e memória.
Nesse percurso de pandemia, a Covid também levou familiares, amigos, conhecidos. A morte de seus amados também se fez presente.
Perderam os seus amores, a autonomia, o contato, a rotina, a presença… o horizonte.
Ganharam… medo.
Medo de de adoecer, medo de serem internados, medo de não serem escolhidos para a intubação, medo de morrer, medo de viver nessas condições. O luto antecipatório acerca de si mesmos, já presentes no processo de envelhecimento, potencializou no contexto da pandemia.
Entre tantas perdas e medos, lutos.
Alguns legitimados, outros vividos em silêncio e outros silenciados.
Retorno com a importância do cuidado, da escuta que acolhe, que legitima, que dá espaço para existir. A importância de fortalecer a consciência do pertencimento, para que não se sintam “incomodando” ou sendo “um peso” para a família.
É essencial fortalecer os apegos seguros, nutrindo presença, mesmo que virtual, atraves de ligações e videochamadas frequentes. E, nos casos onde os impactos emocionais apareçam com mais intensidade, considerar a possibilidade do suporte emocional especializado.
Importante lembrar que, no contexto familiar, cada membro, criança, adolescente, adulto e idoso, vivencia a pandemia de forma singular, e todos precisam de autorização social e espaço para darem voz aos afetos que a pandemia provoca em seu mundo interno.
Comments