Cuidados paliativos: enquanto há vida, há o direito do bem viver.
Não temos o hábito de falar sobre morte. Pelo contrário, nós ocidentais negamos a morte, nós a excluímos do ciclo da vida. A medicina e demais serviços de saúde repetem esse padrão, ao cuidar mais da doença do que do doente e por buscar prolongar a vida, mesmo que gere sofrimento físico e emocional ao paciente.

Terminando de arrumar minha mala para viajar, liguei a TV no momento que começava o programa “Conversa com Bial”. O tema era “cuidados paliativos”. E me encantei!
Não temos o hábito de falar sobre morte. Pelo contrário, nós ocidentais negamos a morte, nós a excluímos do ciclo da vida. A medicina e demais serviços de saúde repetem esse padrão, ao cuidar mais da doença do que do doente e por buscar prolongar a vida, mesmo que gere sofrimento físico e emocional ao paciente.
Assistir a médica paliativista Ana Cláudia Quintana Arantes encheu meu coração de alegria, por ver que os profissionais de saúde estão começando a dar lugar aos cuidados paliativos e, consequentemente, uma “boa morte” à pacientes com doenças incuráveis. Cuidados paliativos são, de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, "a assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais".
Custou-me acreditar que essa médica, em seu período acadêmico, chegou a ser diagnosticada com “empatia patológica”, devido ao seu intenso interesse pelo doente, o que poderia impedi-la de praticar a medicina. Graças a Deus, esse fato não se concretizou e hoje ela pode estar na televisão abrindo canal para esse tema tão necessário à sociedade. Precisamos de mais “doentes de empatia” como ela.

Para a Dra. Ana Cláudia, quem não sabe se emocionar, está fadado a uma atuação profissional limitada.
Ela é autora do livro “A morte é um dia que vale à pena viver”, minha próxima aquisição, com certeza!
A segunda entrevistada, uma paciente com câncer metastático, relatou sua dificuldade em encontrar médicos dispostos a cuidar dela, de seus medos e angústias. Que bom, que encontrou! Ao ser tratada com cuidados paliativos, Frida vive com metástase há 8 anos e com autonomia e qualidade de vida.
Mas por que meu espanto com essa entrevista? Por se tratar de uma prática que ainda não tem o devido espaço e dedicação de nós, profissionais de saúde. Por se tratar de uma necessidade essencial ao paciente de doenças incuráveis. Por precisarmos respeitar mais os doentes e não só as doenças. Por ser obrigação de nossa parte oferecer autonomia e dignidade aos pacientes, até seu último minuto de vida.
O mundo já pratica de forma admirável o trabalho com os cuidados paliativos. Aqui no Brasil já existe bons projetos que merecem visibilidade e que serve de exemplo para todos nós. Sigamos os bons exemplos.
Mas também precisamos aprender a falar sobre morte. Precisamos incluir a morte como parte da vida, pois excluí-la é também uma forma de adoecimento e que gera consequências mais dolorosas do que a própria doença. Tratar o paciente como alguém já morto, é um exemplo. Tratá-lo como alguém que “não tem mais jeito” é matá-lo duas vezes. De acordo com a médica, que a gente não tire os dias de vida do paciente em terminalidade, mas que aprendamos a dar mais vida aos seus dias.